Interfarma Português 01/04/2016

Valor Econômico entrevista Antônio Britto sobre o reajuste no preço dos medicamentos

Valor Econômico
Jornalista: Stella Fontes
O Ministério da Saúde trabalhava ontem para publicar hoje, no Diário Oficial da União (DOU), a resolução da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) que estabelece o reajuste máximo autorizado para medicamentos, com atraso de um dia em relação ao prazo regulamentar, ou 31 de março.
Em resposta a consulta do Valor, a assessoria de imprensa da pasta admitiu que a publicação da resolução pode atrasar um pouco mais e ficar para a próxima semana. O ministério não confirmou o índice de reajuste estimado em 12,5% pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Conforme a Interfarma, é possível calcular o índice que será aplicado a partir do IPCA acumulado em 12 meses até fevereiro, e de outros três fatores, que medem produtividade, concorrência e custos da indústria e já foram divulgados pelo ministério.
Neste ano, como a produtividade da indústria foi negativa, o governo determinou apenas uma faixa de reajuste para todo o setor.
A inflação entre março de 2015 e fevereiro deste ano medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 10,36%. A produtividade foi negativa, o que significa que a mão de obra contratada produziu menos que no ano anterior e o fator foi anulado. E o fator Y, que inclui variáveis como câmbio e preço da energia, adicionou 2,14 pontos percentuais ao IPCA.
Diante disso, a entidade estimou em 12,5% o índice máximo de aumento de preços. Caso o governo confirme esse percentual, essa será a primeira vez, em mais de dez anos, que o teto do reajuste para medicamentos supera inflação.
Segundo o presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto, historicamente, o repasse autorizado aos preços de medicamentos no país não tem sido realizado de forma integral. "A indústria vem de um cenário de forte pressão de custos. Ainda assim, não deve haver aplicação integral", afirmou.
Nos últimos dez anos, segundo a Interfarma, a inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta crescimento de 79,3%, enquanto os reajustes da CMED ficaram em 61,2%. "Essa diferença mostra que, apesar do reajuste deste ano, os medicamentos continuam com seus valores corrigidos abaixo da inflação", disse Britto.
Em nota, o Ministério da Saúde também manifestou essa percepção. "Segundo a CMED, que regula e monitora o setor, a prática de descontos do mercado é praxe tanto na indústria quanto no setor varejista por causa principalmente da concorrência existente neste mercado. Por isso, o impacto no consumidor historicamente tem ficado e deve ficar abaixo do índice que será anunciado em breve."
O executivo afirma ainda que os descontos praticados pelo mercado também influenciam o preço final do medicamento. No varejo, o abatimento médio para os genéricos gira em torno de 64%, enquanto os remédios de referência têm desconto médio de 18%. O aumento deve ser percebido gradualmente pelo consumidor, nos próximos meses, conforme as farmácias renovarem seus estoques.
Em relação ao atraso na divulgação oficial do reajuste, o presidente da Interfarma afirmou que, por enquanto, não há impacto significativo para a indústria.

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