Artigo: A importância de um ecossistema de inovação próspero: como a hepatite C foi identificada e curada

Artigo: A importância de um ecossistema de inovação próspero: como a hepatite C foi identificada e curada

Texto originalmente publicado em inglês no site da IFPMA como parte da campanha #AlwaysInnovating #SempreInovando. Clique aqui para acessar o artigo.

Por Paul Schaper*

Muitas vezes, a inovação vem em ondas, impulsionada pela ciência. Esse foi o caso da descoberta de uma cura para o vírus da hepatite C (HCV). Ela foi rapidamente seguida por outras, disponibilizando várias ferramentas para combater com sucesso a doença.

A história do vírus da hepatite C (HCV) nos mostra o que um ecossistema de inovação próspero pode alcançar – a transição de uma doença debilitante e mortal para a cura dos pacientes e a ambição de erradicar a enfermidade na comunidade global de saúde.

 O que é hepatite C?

HCV é uma doença viral transmitida pelo sangue que progride lentamente ao longo do tempo. Se não for tratada, pode causar lesões no fígado que representam um risco à vida. É a responsável principal pelo câncer de fígado e a principal indicação para o transplante desse órgão.

Globalmente, estima-se que 58 milhões de pessoas tenham o HCV, com cerca de 1,5 milhão de novas infecções ocorrendo por ano. A transmissão da hepatite C resulta mais comumente da reutilização ou esterilização inadequada de equipamentos médicos, da transfusão de sangue e de produtos sanguíneos que não passaram por triagem e do uso de drogas injetáveis por meio do compartilhamento de agulhas ou seringas. Estima-se que existam 3,2 milhões de adolescentes e crianças com hepatite C crônica. A OMS estimou que, em 2019, aproximadamente 290.000 pessoas morreram em decorrência do HCV, principalmente de cirrose e câncer primário de fígado.

1989: identificação da hepatite C pela primeira vez
2011: introdução de antivirais de ação direta
2023: cura em oito a 12 semanas de 95% dos pacientes

A cura foi desenvolvida em um ritmo incrível

O vírus da hepatite C foi identificado pela primeira vez em 1989. No início dos anos 90, foram descobertos alguns medicamentos que tiveram um impacto modesto na progressão da doença para alguns indivíduos, mas apresentavam efeitos colaterais significativos e taxas de sucesso decepcionantemente baixas. A pesquisa para encontrar terapias melhores e mais eficazes continuou. Entre 1998 e 2014, um total de 77 medicamentos experimentais falharam em ensaios clínicos devido a sua alta toxicidade ou eficácia insuficiente. No entanto, esses medicamentos que fracassaram estabeleceram as bases para 12 medicamentos aprovados no mesmo período.

Um momento marcante foi a introdução, em 2011, de uma nova classe de medicamentos conhecida como antivirais de ação direta (AADs). Esses tratamentos com AAD de primeira geração aumentaram substancialmente as taxas de cura em comparação com o primeiro tratamento de HCV aprovado em 1991, em que as taxas estavam por volta de 6%. De acordo com a OMS, atualmente, os AADs mais recentes podem curar mais de 95% dos pacientes ao longo de um período de oito a 12 semanas, sem os efeitos colaterais significativos dos tratamentos anteriores.

Os antivirais de ação direta podem curar mais de 95% dos pacientes
ao longo de um período de oito a 12 semanas

Isso faz com que a hepatite C seja a doença viral mais rápida a ser identificada e curada. Ela continua sendo a única doença viral crônica a ser completamente curada, permitindo que milhões de pessoas recuperem a saúde e vivam bem, evitando danos ao fígado, cirrose, câncer, transplantes e até mesmo risco de morte, ao mesmo tempo em que liberam recursos dos serviços de saúde.

Vidas mudam quando a inovação prospera

Muitas vezes, avanços na compreensão científica de uma doença podem desencadear novas ideias e soluções. A natureza competitiva do ecossistema de inovação resulta em descobertas que se baseiam umas nas outras, levando a melhores opções para os pacientes, como tratamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Por exemplo, no momento em que os cientistas passaram a entender o ciclo de vida do HCV e sua replicação, desencadeou-se ondas de inovação que levaram aos AADs disponíveis hoje.

Embora a jornada da inovação seja imprevisível e arriscada, a história do HCV mostra que um ecossistema de inovação próspero tem o potencial de nos levar da descoberta à cura em apenas 25 anos, trazendo uma rápida transformação na vida de milhões de pessoas com HCV em todo o mundo.

Próxima etapa: Erradicação do HCV

Considerando as opções de tratamento eficazes existentes, a OMS propôs erradicar o HCV como uma ameaça à saúde pública até 2030, visando reduzir em 80% as novas infecções crônicas e em 65% a taxa de mortalidade em comparação com os níveis de 2015.

De acordo com um modelo global recente, a erradicação do HCV geraria US$ 46 bilhões em ganhos acumulados de produtividade e se tornaria uma redução de custos até 2027, proporcionando um benefício econômico líquido de US$ 22 bilhões até 2030.

Países de todo o mundo estão atualmente empenhados em alcançar esse objetivo, ao mesmo tempo em que enfrentam os desafios relacionados ao acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Estima-se que aproximadamente 90% das pessoas que vivem com hepatite desconhecem sua condição. É necessário que autoridades governamentais e organizações globais de saúde pública se comprometam a ampliar os esforços no diagnóstico e na disponibilidade de tratamento, a fim de facilitar o acesso rápido aos cuidados e, assim, conter a disseminação de novas infecções.

Por meio da determinação e da colaboração, podemos aproveitar o incrível sucesso que tivemos até agora e tornar o HCV uma questão do passado.

*Paul Schaper é Vice-Presidente Adjunto de Política Farmacêutica Global na MSD

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