Redes se preparam para vacinação

Valor Econômico | Jornalista:  Adriana Mattos 

Grandes redes de farmácias devem começar a testar em suas unidades o serviço de vacinação no país nas próximas semanas. Na noite de terça-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou resolução para que outros estabelecimentos de saúde, além de clínicas, laboratórios e hospitais, atuem na área. Isso deve reforçar a estratégia das varejistas de ampliar o portfólio de serviços ao cliente.

Com a mudança, há expectativa, por parte do varejo e da indústria, de queda no preço das vacinas ao consumidor em 2018.

O Brasil tem 70 mil farmácias e 1,4 mil clínicas privadas de vacinação, que passarão a enfrentar a nova concorrência direta.

A rede Pague Menos inicia a adoção do projeto de vacinação em suas drogarias até março – 700 lojas da rede já têm área determinada para esse fim. O plano prevê que todos os 1.090 pontos da Pague Menos ofereçam o atendimento nos próximos meses.

\”A área permitida para o atendimento ainda deve ser informada em portaria [da Anvisa], mas estamos considerando uma área para vacinação de 7,5 m2 , que dá para atender sem problemas\”, diz Francisco Deusmar de Queirós, fundador da Pague Menos. \”A intenção é oferecer ao cliente esse serviço que complementa outros focados no ideal de saúde, como os testes rápidos. E a ideia é trabalhar para baixar os preços praticados no mercado. Vacina pode ser mais barata\”.

Segundo ele, o investimento no projeto não é relevante, basicamente em treinamento, estoques e equipamentos para conservar os itens. Mas é preciso ter controle do inventário, por serem mercadorias de alto valor.

Na Raia Drogasil serão feitos os primeiro testes num número seleto de drogarias no próximo ano e esse volume deve \”ganhar importância\” a partir de 2019, diz Eugênio De Zagottis, diretor de planejamento corporativo.

Uma primeira unidade da empresa começa a oferecer o serviço nas próximas semanas, em São Paulo, mas isso não tem relação com a autorização da Anvisa. O avanço na tramitação de um projeto de lei sobre vacinação em farmácias no Estado motivou o teste. Há expectativa que o governador Geraldo Alckmin sancione o projeto. Nele, as farmácias têm que ter uma sala de atendimento de, pelo menos, 3 m2 .

\”Com até 3 m2 de área existirão muito mais unidades com o serviço\” diz De Zagottis. \”Vacinação é algo complexo, não pode ser feito a toque de caixa. São itens perecíveis e é preciso treinar todos os farmacêuticos. Não é chegar e ir fazendo\”. Ele acredita também numa queda nos preços ao consumidor, mas não faz previsões. \”Dá para ganhar com maior escala e melhor planejamento de estoques\”.

Procurado pelo Valor, o Carrefour informou que está avaliando a possibilidade de oferecer o atendimento em suas drogarias. São 124 pontos no país. O Grupo Pão de Açúcar, com 130 pontos, afirmou que ainda não estuda a ideia.

Há pelo menos dois anos, empresas e a Abrafarma, entidade do setor, trabalham na aprovação do projeto. Representantes das clínicas privadas, que participaram das negociações, criticam a aprovação. \”Faltam vacinas para atender toda a demanda, especialmente em períodos de pico. Cerca de 60% do lote pedido não é entregue, então há muita ruptura\”, diz Geraldo Barbosa, presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).

\”Com as farmácias atuando também no setor, não sabemos como os laboratórios definirão esse abastecimento. As relações comerciais vão definir quem recebe mais ou menos vacinas?\”, diz ele. Barbosa rebate os questionamentos sobre preços altos das vacinas nas clínicas. \”Eles [redes] falam em reduzir 40%, mas não vejo como. Nossa margem líquida varia de 10% a 13%, não é nada astronômica\”. Em farmácias líderes do setor, a margem líquida varia de 3% a 5%.

Para a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), ainda é cedo para afirmar que o maior número de prestadores do serviço vai se refletir em aumento das doses aplicadas, disse o presidente-executivo Antônio Britto. \”Estamos diante de um fato novo, que precisa ser avaliado\”.

Segundo Max Fischer, diretor de finanças e relações com investidores da distribuidora Profarma, com a medida, a empresa terá \”grande benefício\” com o aumento do fluxo nas lojas. \”O Brasil tem uma potencial demanda de quase US$ 4 bilhões em vacinas, segundo dado do instituto Close-Up Internacional. O setor [de drogarias] pode preencher essa lacuna devido à proximidade com o consumidor.\” O serviço de aplicação de vacinas já era regulamentado em São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Distrito Federal. Com a decisão, ele será estendido às demais unidades da federação. Apesar disso, as farmácias não ofereciam essa opção porque os municípios têm diferentes normas e ainda existiam dúvidas sobre determinadas regras para cada um desses mercados.

Com a resolução nacional, se padroniza o atendimento. 

Colaboraram Stella Fontes e Alexandre Melo

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