Folha de S.Paulo
Jornalista: Bruno Mirra
Farmácias públicas municipais e estaduais em São Paulo sofrem com falta generalizada de medicamentos, aponta o Ministério Público.
Investigação do órgão feita em maio encontrou desabastecimento de cerca de 100 remédios, numa lista de 400 —algumas das medicações chegam a ficar seis meses sem serem oferecidas.
Após receber reclamações, a promotora Dora Strilicherk visitou cinco unidades da prefeitura,que fornecem medicamentos básicos,e uma do Estado, responsável por medicação de alto custo.
Segundo a promotora, a amostra é representativa das duas redes na capital.
Foi constatada carência de antibióticos, antitérmicos, antialérgicos e anticonvulsivos, considerados “básicos e essenciais” pela Promotoria por serem de uso frequente de crianças e idosos.Os itens estão sob responsabilidade da gestão Haddad (PT).
Também faltavam itens como imunoglobulina anti-hepatite Bemorfina, sob responsabilidade do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
O governo estadual diz que discorda da metodologia da promotora e nega que haja desabastecimento em sua rede.
Segundo o Estado, a farmácia não precisa ter medicamento o tempo todo. A prefeitura diz que a reposição de itens sofreu atrasos e que já os repôs (leia mais abaixo).
A autônoma Miriam Kunis, 44, é uma das pacientes com dificuldades de encontrar remédios.
Ela precisa de prednisona, corticoide utilizado por pacientes transplantados (ela tem pâncreas e rins transplantados),a ser oferecido pelo município. Há seis meses ela não encontra o item.
“Oque eles alegam é que o medicamento está sendo comprado, mas nunca tem”, afirma. Sema oferta gratuita, ela compromete parte de suas economias para comprar o produto. A falta da medicação pode causar a rejeição do órgão transplantado.
gestão De acordo com o inquérito civil aberto pela promotora (primeiro passo de investigação), há mais problema de gestão do que de falta de recursos nos dois sistemas.
As farmácias informam órgãos centrais que haverá falta de medicação, mas a compra não é feita na velocidade adequada, diz a promotora.
“Cabe a quem está acima hierarquicamente pegar essa informação e tomar a providência cabível. Se é sabido que se pode ter problemas com os prazos, é preciso planejar.
Se comprar antes, não vai faltar”, diz Strilicherk.
A paciente Adriana Medina, 29, afirma que ouviu outra avaliação de médicos e funcionários da unidade na zona sul onde procura, sem sucesso, medicamento para tratar seu rim transplantado.
“Dizem que a culpa é da crise.” Ela procura medicação há seis meses.Conseguiu uma doação do produto para atenuar o problema.
A Promotoria também critica a falta de transparência.
De modo geral, os usuários chegam às farmácias sem saber quais medicamentos estão disponíveis. Em caso de falta, não sabem quando serão repostos.
A prefeitura até possui um site que informa a disponibilidade de remédios, por unidade.“O problema é que muitas pessoas não têm condições de acessar a internet”, afirma a promotora.