Folha Online
A medicina brasileira chegou ao limite da ineficiência causada pela desarticulação entre os sistemas público e privado de atendimento. Este foi o ponto central do Fórum a Saúde do Brasil, seminário realizado pela Folha na quarta-feira e anteontem, em São Paulo, com três centenas de participantes.
A Constituição de 1988 dotou o país de um serviço “único” e gratuito, o SUS, que permaneceu porém cronicamente subfinanciado. Dos gastos totais com saúde, a maior parte (54%) é efetuada por famílias e empresas, não pelo Estado uma anomalia em países com essa modalidade de sistema universal.
Mais de 50 milhões de pessoas escapam das filas do SUS por meio de planos privados. Em 2003, eram 32 milhões crescimento de 57% numa década. O afluxo de novos pacientes aos convênios já faz a qualidade do atendimento cair e o número de reclamações aumentar (42% os consideram só regulares).
O resultado é uma insatisfação generalizada com a saúde, como mostra pesquisa Datafolha contratada pela Interfarma: para 62% dos entrevistados, ela é ruim ou péssima. E aparece isolada como o principal problema do país, na opinião de 45% dos consultados, mais que todos os outros itens somados.
Falta de profissionais é a maior deficiência apontada pelo Datafolha. O governo Dilma Rousseff improvisou o programa Mais Médicos, que pode ultrapassar 13 mil contratações em abril, e já colhe dividendos políticos: 67% se declaram favoráveis à presença de estrangeiros no serviço. O programa continua controverso, como ficou evidente no debate mais acalorado do Fórum a Saúde do Brasil.
Houve consenso de que falta coordenação entre os vários serviços e sobram entraves à pesquisa e à inovação tecnológica. O país precisa de mais medicina, medicina melhor, e não só de mais médicos.