Interfarma Português 23/02/2016

Governo troca “tarifaço” por “impostaço” em inflação

O Financista
Se, no ano passado, o vilão da inflação foi o “tarifaço”, como ficou conhecido o reajuste de preços administrados depois do represamento de algumas tarifas, como energia elétrica, um dos principais responsáveis pela manutenção do índice em patamar resistentemente elevado em 2016 é o “impostaço”.
“Tivemos o ‘tarifaço’ ano passado e agora um ‘impostaço’ neste ano. Não só o governo federal, mas os governos estaduais estão quebrando, e todos que podem aumentar qualquer imposto estão fazendo. Estão todos tentando sugar o máximo de receita possível”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.O Boletim Focus aponta uma pressão bem menor dos preços administrados, que são estabelecidos por contrato ou órgão público, neste ano. A perspectiva foi revisada de 7,70% para 7,50%, enquanto a estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu de 7,61% para 7,62%, evidenciando que a maior pressão virá dos preços livres.
Vale lembrar que em 2015 a inflação dos preços administrados chegou a 18,08%, no maior patamar da série histórica remodelada em janeiro de 2012, e o IPCA encerrou o ano com alta de 10,67% nos preços, no maior resultado para o período desde 2002, quando a inflação foi de 12,53%.
Impostos
Em janeiro, 20 estados e o Distrito Federal elevaram a alíquota do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços). Também foi suspensa a lei que isentava a cobrança de alguns tributos, como o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado), PIS e Cofins, de computadores, notebooks, tablets, smartphones e roteadores.
No início deste mês foi a vez dos chocolates, sorvetes e cigarros terem as alíquotas de IPI elevadas.
Nem os medicamentos escapam. Pelo menos 12 estados elevaram a alíquota de ICMS de remédios neste ano, alegando problema de arrecadação decorrente da crise econômica, segundo a Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa).
De acordo com a associação, o aumento da carga tributária pode forçar uma redução dos descontos oferecidos no varejo, especialmente porque a indústria farmacêutica também está sendo impactada por outros custos, como a desvalorização do real e o preço da energia.
Com as empresas também enfrentam dificuldades para fechar suas contas, esses aumentos nos custos devem ser repassados ao consumidor.
“Apesar do alívio trazido pela redução na energia elétrica no curto prazo para a inflação, vemos ainda mais pressões inflacionárias repassadas dos custos de produção (trabalhista, tributário, logístico, etc) para os preços ao consumidor”, afirma Carlos Pedroso, economista-sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi.
São pressões como essa que levaram Jason Vieira a elevar sua projeção para o IPCA neste ano para 8,81%, bem acima do esperado pelo Boletim Focus e mais uma vez superando o teto da meta estabelecido pelo governo (6,5%).
Ainda não entraram nas projeções a aprovação do retorno da CPMF e o eventual reajuste da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), cobrada sobre os combustíveis. Se entrarem na conta, a inflação de 2016 pode ficar ainda mais parecida com a do ano passado, apenas com um vilão diferente.

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