
Diretor da INTERFARMA cita excesso de tributos como agravante para a balança comercial
Diretor da INTERFARMA cita excesso de tributos como agravante para a balança comercial
Título: DÉFICIT ALTO NA TROCA EXTERNA
Valor Setorial – Saúde | Jornalista: Simone Goldberg
O déficit da balança comercial do setor da saúde, que foi de U$S 7,7 bilhões no ano passado – US$ 2,8 bilhões em equipamentos e materiais em geral e US$ 4,9 bilhões em produtos farmacêuticos vem sendo combatido em duas frentes. De um lado, projetos como o Brazilian Health Devices (BHD), desenvolvido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil) e a Abimo, associação que reúne fabricantes de artigos médicos e odontológicos, visam estimular a exportação; de outro, o programa para o desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde, que incentiva a nacionalização de medicamentos e equipamentos para reduzir importações.
Segundo o Ministério da Saúde, as 80 Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) – acordos entre laboratórios públicos e privados para transferência de tecnologia de itens estratégicos para o Sistema
Único de Saúde(SUS)-devem trazer economia de R$ 5,3 bilhões ao ano até 2025, quando todas estiverem funcionando plenamente.
A Blanver, fabricante brasileira de medicamentos e insumos farmacêuticos ativos, é um exemplo de atuação nas duas pontas. Segundo o CEO Sérgio Frangioni, a empresa está negociando a exportação de medicamentos genéricos para tratamento do H1V. A produção desses remédios, distribuídos pelo SUS, é feita por meio de PDPs com o Ministério da Saúde e dois laboratórios públicos. “O plano tem como destino a América Latina e, numa segunda fase, Europa, Canadá, África e Estados Unidos.”
A Blanver adquiriu, em 2016, a CYG Biotech, fabricante de matéria- prima usada em remédios e está investindo RS 20 milhões na ampliação da instalação em Indaiatuba (SP)para complementara produção de medicamentos, na fábrica em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Até setembro, exportou matérias- primas para cerca de cem países, por meio da divisão de excipientes, a Itacel, vendida recentemente. Neste ano, as exportações contribuirão com cerca de 25% da receita.
Outra empresa exportadora é a Fanem, que tem forte presença na América Latina e no Oriente Médio, exportando incubadoras neonatais e equipamentos de fototerapia para tratamento de icterícia do recém- nascido. Nos últimos anos, vem consolidando a África como um dos principais mercados. A Fanem é uma das 150 participantes do projeto BHD, das quais 120 empresas vendem para cerca de 140 países.
O gerente de exportação José Flosi diz que, com a crise no mercado interno, as exportações garantem a sobrevivência e respondem por mais ou menos 35% do faturamento, que deve crescer 10% neste ano, puxado pelo mercado externo. Segundo ele, os números poderiam ser melhores não fossem entraves como a logística marítima. Por isso, a Fanem, que tem fábricas em São Paulo e na índia, investiu em outra no México, que começa a operar agora em novembro. “A ideia é exportar a partir de lá.” A Ásia é um destino promissor, via rota pelo Oceano Pacífico, onde Tailândia e Indonésia são mercados em expansão nos últimos dois anos.
O projeto BHD vem ajudando exportadores na participação em feiras internacionais, prospecção e pesquisa de mercado, além de incentivar a obtenção de certificações internacionais, fundamentais para exportar. Segundo a gerente de projetos e marketing internacional da Abimo, Clara Porto, o BHD deve ser renovado em novembro para o biênio 2018-2019.
A cada dois anos são escolhidos mercados-alvo prioritários, sendo os próximos: Arábia Saudita, China, Estados Unidos, Indonésia, Irã, México, Rússia, entre outros. Em 2016, as empresas do projeto BHD exportaram U$S 80 milhões. Para 2017, a expectativa é de alta de 20%.
No geral, a Abimo prevê para este ano um ligeiro decréscimo nas exportações. “Como as importações também estão em queda, o déficit deve ser menor no encerramento do ano”, estima Clara. Em 2016, as exportações totais de equipamentos e materiais da área de saúde somaram US$ 671,6 milhões, e as importações US$ 3,5 bilhões. Para 2017, a projeção é comprar lá fora U$S 664 milhões e vender U$S 3,4 bilhões, deixando o déficit em U$S 2,77 bilhões.
O Brasil tem forte oferta exportadora, especialmente na área de odontologia, mas também em reabilitação, soluções para tecnologia assistiva, telemedicina e telessaúde. Para deslanchar, lembra Carla, as empresas precisam ser mais capacitadas tecnicamente e ter a cultura exportadora. Outras barreiras são o custo logístico, de financiamento e dificuldade de fechamento de câmbio com alguns países.
A indústria brasileira, diz o gerente de exportações da Apex-Brasil, Christiano Braga, é capaz de prover mais de 95% da demanda hospitalar, e hoje há uma mentalidade mais exportadora no setor. “A manutenção e ampliação da carteira de clientes internacionais é o grande norte do projeto setorial.” Segundo ele, as iniciativas de comércio exterior, antes mais restritas aos negócios intercompany das multinacionais, ganhou mais de cem empresas primordialmente brasileiras.
Nos produtos farmacêuticos, o alto custo da produção e da complexa tributação além das normas burocráticas que atrasam a inovação são lembradas por Pedro Bernardo, diretor de acesso a mercados da Interfarma, a associação da indústria farmacêutica que representa as multinacionais, como obstáculos à redução do déficit, que na sua avaliação deveria ocorrer pelo aumento das exportações. “Uma nova fábrica no país não é feita só para abastecer o mercado interno, precisa ter escala e competitividade para participar da cadeia global, importando, processando e exportando.” Em 2016, as exportações de medicamentos chegaram a US$ 1 bilhão e as importações a U$S 5,9 bilhões. A recessão e em menor parte a influência do câmbio ajudaram a reduzir importações e o déficit em 2015 sobre 2014, mas o saldo negativo voltou a crescer no ano passado. Até agosto de 2017, o déficit estava em U$S 3,4 bilhões, com U$S 689 milhões exportados e U$S 4,1 bilhões gastos em compras do exterior.