
Dia Internacional das Mulheres: Liderança feminina e diversidade são peças-chaves para o desenvolvimento
Comemorado pela primeira vez em 1911, o Dia Internacional das Mulheres foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975. O 8 de março é uma ocasião na qual são celebrados os avanços políticos, sociais e econômicos conquistados pelas mulheres, mas também é importante para lembrar que ainda há muito a ser feito para acabar com a desigualdade de gênero.
O Global Gender Gap Report 2022, do Fórum Econômico Mundial, que compara dados de 146 países, aponta que no ano passado a diferença global de gênero foi de 68,1% e que seriam necessários 132 anos para atingir a paridade. Comparada a estimativa de 2021, houve uma pequena melhora, já que o relatório anterior mostrou que seriam necessários 136 anos.
Já segundo a ONU Mulheres, de acordo com os dados do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS) a igualdade de gênero não será alcançada em 2030. Para alcançá-la seriam necessários 286 anos. A 67ª Sessão da Comissão da ONU sobre o Estatuto da Mulher, CSW, realizada de 6 a 17 de março, debate progresso relacionado à igualdade de gênero e ao empoderamento feminino.
Em seu discurso na abertura do evento, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ressaltou a importância da participação da mulher na ciência e tecnologia. Para ele, sem a participação e a criatividade femininas, ciência e a tecnologia realizarão apenas 50% de seu potencial.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou recentemente o documento “Novos dados esclarecem as diferenças de gênero no mercado de trabalho“. O relatório aponta que 15% das mulheres em idade produtiva em todo o mundo gostariam de trabalhar, mas não têm emprego, em comparação com 10,5% dos homens. A porcentagem de mulheres que buscam, mas não encontram uma vaga é ainda maior nos países em desenvolvimento, 24,9% (entre os homens é de 16,6%).
Liderança feminina na Indústria Farmacêutica no Brasil
No Brasil, os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) relativos a 2021, divulgação mais recente do Governo Federal, mostram que a indústria farmacêutica brasileira tem paridade de gênero entre funcionários homens e mulheres. Em 2021, a indústria empregava 93.366 pessoas. Houve um aumento de 39% no número de mulheres empregadas entre 2006 e 2021, de 33.671 funcionárias para 46.987. Nos cargos de liderança, a participação feminina passou de 13% para 39% no mesmo período.
Entre as associadas da Interfarma, atualmente, cinco são lideradas por mulheres. Para marcar o Dia Internacional das Mulheres, conversamos com quatro presidentes sobre o cenário da presença feminina no setor farmacêutico. Elas concordam que é preciso incentivar e inspirar mais mulheres a se desenvolverem profissionalmente, em todos os setores produtivos, já que liderança feminina e diversidade são peças-chaves para o desenvolvimento da indústria farmacêutica.
Para Amanda Spina, presidente da Janssen Brasil, o aumento da presença de mulheres nas posições de liderança na indústria farmacêutica traz benefícios para todos. ” Poder usar o espaço que a minha carreira me permitiu alcançar para elevar e inspirar outras mulheres a serem o que desejam é tanto um compromisso quanto uma responsabilidade. A presença de mulheres nas posições de liderança na indústria tem se ampliado e isso traz benefícios para todos, pois gera mais diversidade de ideias e soluções no setor de saúde que acabam impactando positivamente pacientes, profissionais de saúde, familiares e outras pessoas que atuam nos cuidados”. Ela sugere que para tornar o impacto feminino ainda mais amplo é preciso incentivar o desenvolvimento intencional. “Pensando nas diversas intersecções que há em ser mulher, acredito que planejar um desenvolvimento intencional e buscar quebrar paradigmas quanto a equilíbrio entre carreira e vida pessoal são elementos essenciais. Como mulher, profissional, esposa e mãe, sinto que há um grande fortalecimento quando nos conectamos para troca de experiências”.
Isabella Vianna Wanderley, presidente da Novo Nordisk Brasil, destaca como a pandemia evidenciou a carga dupla/tripla que as mulheres convivem há anos. “Não é fácil equilibrar todos esses papéis e durante o lockdown essa tarefa ficou ainda mais extenuante. Vários estudos mostram que as mulheres foram as mais atingidas pelo stress e fardo emocional desse momento”. Além disso, a crise sanitária mostrou ainda o papel fundamental da Indústria Farmacêutica de inovação em melhorar a saúde da população, o que também traz ganhos para as pautas de Diversidade Inclusão. “Estamos fazendo isso, nos abrindo para novas experiências, novos modelos e novas perspectivas. Isso é um campo fértil para pautas como Diversidade e Inclusão, que vêm ganhando muito mais protagonismo. Justamente por acreditar na equidade sei que em vários momentos não saímos de posições iguais, por isso acredito em programas que apoiem o desenvolvimento das profissionais e na aplicação de algumas ações positivas. As mulheres estão acelerando seu crescimento em posições de liderança, mas existem dúvidas e aprendizados para que naveguem bem nessa direção. Saber que você não está sozinha nessa jornada faz muita diferença, e esse suporte vem de colegas independente do gênero”.
Laurena Magnoni, presidente da da Besin Healthcare no Brasil, as lideranças femininas no setor farmacêutico conseguem conectar resultados para a empresa com a centralidade do paciente e o seu próposito de vida. “Tenho percebido é que as mulheres, sobretudo diante de dificuldades, não se intimidam facilmente. Acredito que as lideranças femininas no setor farmacêutico conseguem estabelecer uma conexão bem interessante entre resultado para a empresa, a centralidade da saúde do paciente, com o seu propósito de vida e de carreira”. Ela também ressalta que o número de executivas vem aumentando e deixando sua marca no setor. “Se compararmos os dados de hoje com os de quando comecei, notamos que era muito raro mulheres ocuparem o comando de uma indústria farmacêutica no Brasil. Penso que nos últimos anos já estamos deixando uma marca de atuação feminina mais forte no nosso setor. Estamos demostrando a nossa incrível capacidade de lidarmos com responsabilidades familiares e profissionais. Somos extremamente perspicazes em termos de planejamento e inovação – tanto em nível pessoal, quanto empresarial. As empresas devem incentivar as suas colaboradoras a acreditarem no seu potencial de liderança e que é possível o equilíbrio da vida profissional e pessoal. Também é fundamental valorizar e promover os casos de sucesso de lideranças femininas para motivar as equipes e reafirmar a autoconfiança e o reconhecimento dessas profissionais”.
Marta Díez, presidente da Pfizer Brasil, acredita ser essencial inspirar outras mulheres e que as empresas precisam demonstrar por ações que querem ser diversas. “Sempre comento que sou a primeira mulher a presidir a Pfizer no Brasil, mas não serei a última. Quero apoiar aquelas que serão as líderes do futuro. Refletir a sociedade na qual estamos inseridos faz com que vivenciemos as dores e os desafios, propondo assim soluções que efetivamente farão a diferença. E é preciso demonstrar por ações que de fato queremos ser diversos. Fui contratada pela Pfizer grávida e, para mim, isso foi uma prova de que a companhia acreditava na minha capacidade de ser mãe e, ao mesmo tempo, ser uma grande executiva. Como líderes mulheres, devemos reforçar que a maternidade não pode ser uma barreira”. E complementa com a importância da rede de apoio no processo. “Contar com pessoas ao nosso lado que nos apoiam, nos inspiram e nos motivam é algo que faz toda a diferença. Apoiar outras mulheres ao longo de sua trajetória pessoal e profissional é, sem dúvida, uma grande forma de fortalecer a sororidade na comunidade feminina e inspirar essas profissionais a seguirem seus planos e sonhos”.