Setor Português 02/12/2013

Certezas que encarecem os planos de saúde

02/12/2013 – O Estado de S.Paulo
Jornalista: Penteado Mendonça

A saúde pública brasileira não vai bem. As filas do SUS são alvo de reportagens em todos os tipos de mídias. As mais impactantes são as que trazem imagens, onde a penúria dos hospitais faz contraponto a pacientes mal atendidos, ou não atendidos, quando o atendimento teria a capacidade de salvar uma vida ou evitar danos colaterais.

A solução do governo foi a importação de 4 mil médicos para atuarem nas áreas mais carentes do país. Gomo jogada de marketing político pode ser brilhante. Na prática, terá pouco efeito. Não adianta colocar um médico onde ele não tem recursos para exercer sua profissão. Os consultórios, quando muito, são casebres sem condições mínimas de higiene ou de possibilitar a realização de procedimentos mais complexos do que receitar aspirina ou vermífugo.

Uma olhada nos hospitais da rede pública e nas filas que se formam nas suas portas é suficiente para desanimar o mais otimista. Mas a situação fica muito pior quando se olha o que acontece atrás das paredes, nos ambulatórios, consultórios, corredores dos prontos-socorros, enfermarias, quartos, centros cirúrgicos e de terapia intensiva.

Uma consulta com diagnóstico de câncer necessitando cirurgia tem retorno marcado para 6 meses depois e a cirurgia que deveria ser realizada imediatamente só é marcada depois dos exames solicitados quando do retomo.

Existem algumas ações com resultados positivos, mas o pagamento insuficiente e os atrasos e contingenciamentos feitos por razões políticas comprometem a capacidade dos centros de atendimento de prestar os serviços para os quais foram equipados.

O resultado disso é que os planos de saúde privados, apesar de tudo o que dizem a respeito deles, são os grandes sonhos de consumo da população brasileira. O problema é que os planos de saúde privados não são panaceia para o drama da saúde pública.

Eles são produtos desenhados para um determinado objetivo, previsto e limitado por uma das piores leis votadas no Brasil. Ou seja, eles podem minorar os problemas do SUS, mas não têm o condão de modificar o quadro lamentável oferecido à população.

Quando uma nação convive com realidades como a falta de saneamento básico em 2/3 dos domicílios, pouco apoio à mulher e falta de assistência na gravidez, alimentação insuficiente nos primeiros anos de vida, falta de creches e postos de saúde com assistência pediátrica, além de outras mazelas, não há como, depois de alguns anos neste cenário, modificar a realidade da população afetada. Os danos ao corpo e ao cérebro, para não falar nos aspectos psicológicos, são irreversíveis. O máximo a fazer é tratar para atenuar as deficiências e o sofrimento.

Mas o quadro se agrava na hora em que as epidemias completam o serviço, atingindo, na maioria das vezes, justamente os que já passaram pelas provações acima. Dengue, hanseníase, malária, febre amarela, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis, gripe e outras custam bilhões de reais, sem que haja no horizonte indicação de que o cenário vai se modificar.

E, para quem acha que já está de bom tamanho, tem mais. Anualmente, 50 mil assassinatos e 60 mil mortos 110 trânsito dão a dimensão do estrago causado pela violência e pela irresponsabilidade. Estes números apavorantes aumentam muitas vezes os custos com saúde quando a eles são adicionados os feridos e os inválidos.

Mas ainda falta abordar o capítulo mais trágico: a explosão das drogas. Hoje, o consumo de crack atingiu níveis de endemia, ou uma epidemia permanente e que vai se espalhando pelo País.

Se a Lei dos Planos de Saúde Privados fosse um primor, seria difícil controlar os aumentos. Como a lei é mim, ela limita a capacidade operacional das empresas. E, em complemento a ela, o Judiciário, tentando atenuar as agruras da população, intervém de forma equivocada, encarecendo ainda mais uma atividade cujos custos não têm relação com a inflação, e sim com o aumento da demanda e com o custo da medicina.

Presidente da Academia Paulista de Letras, e Comentarista da “Rádio Estadão”

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