
Brasileiros se perdem nos gastos e adiam pagamento de comida e remédio
Folha de S.Paulo | Jornalista: Clara Cerioni
O cartão de crédito é uma das modalidades de pagamento eletrônico mais populares entre os brasileiros. Só em 2017, as empresas do setor movimentaram R$ 843 bilhões da economia, alta de mais de 12% em comparação com o ano anterior.
No entanto, o excesso de possibilidades que a ferramenta oferece pode se tornar uma armadilha financeira para consumidores que não têm o hábito de controlar gastos.
Segundo pesquisa do SPC Brasil com a CNDL (confederação dos lojistas), em maio deste ano, três em cada dez brasileiros que fizeram compras no cartão não sabiam quanto gastaram.
Sem controle, o endividamento é certo.
Foi o que aconteceu com a atriz Pamella Martelli, 29, que não tinha salário fixo na época em que perdeu o controle. \”Foram meses contabilizando gasto por gasto para conseguir limpar meu nome\”, diz.
O produtor de eventos Ricardo Santos, 40, também caiu nas armadilhas do crédito de acesso fácil.
Ele começou usando o cartão para fazer grandes compras. Com salário estável, tinha seis cartões e usava todos ao mesmo tempo, mas perdeu o controle quando começou a fazer compras do dia a dia.
Atualmente, ele tem uma dívida de R$ 15 mil.
\”Os juros são exorbitantes. Não pretendo ter crédito nunca mais. Agora me reeduco financeiramente\”, afirma.
Para Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, o descontrole comprova a cultura popular de que o cartão é extensão do salário. \”É uma boa ferramenta para gastar, mas há a fatura.\”
Com o orçamento apertado, o brasileiro tem deixado de comprar bens duráveis no cartão e usado o crédito para pagar compras de supermercado e remédios.
Segundo a pesquisa do SPC, essas despesas foram citadas por 63% e 47% dos consumidores, respectivamente.
O educador financeiro Rogerio Favalli alerta para os perigos de fazer compras de produtos que serão consumidos antes do vencimento da fatura. \”Além de pagar a conta do crédito, você provavelmente precisará comprar mais comida e remédio.\”
A professora Sayuri Hamada, 27, sempre fez compras de supermercado no crédito.
Segundo ela, como o salário era insuficiente, essa foi a solução encontrada. \”Depois percebi que não deveria gastar isso no crédito, mas não tinha jeito. Era necessário.\”
Hoje, ela tem uma dívida de R$ 3.000. \”Já tentei negociar, mas as propostas são injustas. Não consigo me comprometer com uma parcela por 15 meses.\”